Iza Maria de Oliveira
O que herdaste de teus pais
Adquire, para que o possua. (Goethe)
Somos herdeiros do amor-paixão romântico, tal como foi concebido no romantismo. Esta herança é relativa a um núcleo amoroso fortemente inscrito nas subjetividades contemporâneas. É certo que ocorreram alterações, no transcorrer do tempo, nas configurações amorosas desde aquele movimento cultural e artístico, inaugurado pela cultura européia do século XIX, que cria a noção de amor romântico como um sentimento profundo, misterioso, nobre e sublime, contendo um objeto idealizado e sua realização se efetivando no plano do individual.
É importante situar isso, pois a noção de amor romântico é historicamente construída e relacionada a uma estrutura social e cultural estabelecida. O psicanalista Jurandir Costa, em seu livro, “Sem fraude, nem favor: estudos sobre o amor romântico” (Rocco, 1999), refere que aquele amor é um complexo emocional profundamente enraizado em nossa cultura. Para ele, poucas pessoas são capazes de duvidar da "universalidade" e da "naturalidade" deste amor culturalmente oferecido como algo sem o que nos sentiremos profundamente infelizes. Assim, sugere que uma crítica à idealização do amor-paixão romântico, para existir chances de propor uma vida sexual, sentimental ou amorosa mais livre.
Neste `núcleo amoroso` herdado se encontra o ideal de um amor bem sucedido, em que comporta uma idealização no objeto amoroso. Ou seja, que o parceiro amoroso responda às expectativas e satisfações do sujeito. Para essa configuração, Freud atribuiu um componente narcísico das relações amorosas. Um dos impasses nos laços conjugais se refere a uma demanda voraz no formato de um imperativo cultural de satisfação absoluta na vida afetiva e erótica. O reverso disso é, na maioria dos casos, uma frustração que pode se estender, imaginariamente, a outras instâncias da vida.
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