Por que tão sério?
O demoníaco Coringa da derradeira atuação de Heath Ledger (em Batman – O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan) roubou a cena. O jovem ator australiano construiu um vilão cheio de tiques e olhares alucinados, representando uma encarnação do mal digna da linhagem do Hannibal de Hopkins e do Iluminado de Nicholson.
Complementar a essa performance, está a brincadeira que o Coringa faz com a psicogênese do mal: cada vez que ameaça cortar ou matar uma de suas vítimas, compraz-se em narrar um trauma de infância, que teria dado origem às suas cicatrizes e à sua crueldade. Porém, ele mente ou distorce, pois ele sempre conta um episódio diferente. As versões giram em torno duma história familiar trágica e triste, conseqüência da qual teria ficado em seu rosto um corte em ambas comissuras labiais que lhe impõe um “sorriso” sinistro. Um trauma que justificaria o fato de que ele se divirta com o sofrimento alheio.
A maldade gratuita do palhaço demoníaco de Ledger ridiculariza nosso desejo de controlá-la, como se ao lhe saber a origem pudéssemos também prevenir e, principalmente, garantir que ela não se expresse. Enigmaticamente, ninguém é alheio ao mal: todos nós retiramos algum prazer da evocação da violência e do assassinato em nossos sonhos e devaneios, na ficção, nos jogos.
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