quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Fragmentos:

"E os ladroes, de onde saem? Por onde passam? Ninguém os vê. Depois se fica sabendo: esta noite arrombaram a porta, roubaram aqui, roubaram acolá. Mas como farão para não serem vistos? E nunca sabem explicar a proveniência de qualquer muamba. Lê-se sempre nos jornais: foi encontrado de posse de tal objeto, cuja proveniência não soube explicar. Diabos! Aos ladrões só se pede que expliquem uma coisa: não a quadratura do círculo ou um problema de álgebra, mas apenas a proveniência do espólio. Pois bem, ainda estou para ver um ladrão que tenha sabido explicá-la. Mas não terão nem um pouco de imaginação? Não podem inventar alguma coisa que tenha aparência de verdade? Para eles, essa proveniência deve ser o que é para os pensadores a imortalidade da alma, o infinito ou - pior - o infinito.
Coisa igualmente estranha é a obstinação com que os agentes de polícia continuam a pedir aos ladrões que expliquem a tal proveniência. Ainda nao se convenceram a ignorá-la, ainda não entenderam que os ladrões não a sabem explicar. Que os predam, então, mas nos poupem dessa penosa questão."
*Entre a mentira e a ironia -Umberto Eco