quarta-feira, 2 de setembro de 2009

JORNADAS CLÍNICAS DA APPOA


Os mistérios da mente e sua capacidade de atormentar e até mesmo enlouquecer os homens têm sido objeto de interesse e estudo tão antigos quanto a própria história humana. Da tentativa de extirpar a “pedra da loucura”, na Idade Média, passando pelo inconsciente freudiano, até as atuais propostas de interpretar e tratar os males psíquicos pela via orgânica, muitos caminhos foram e são percorridos.

Do ponto de vista da psicanálise, a porta de entrada para o inconsciente foi a histeria. Tratava-se, inicialmente, do específico da neurose. O trabalho com o inconsciente levou Freud a formular outras questões a respeito das vias da delimitação do psiquismo, passando por diferentes organizações neuróticas, como a fobia e a neurose obsessiva, mas não se restringiu a elas.

Foi através do estudo do Caso Schreber que Freud articulou grande parte de suas proposições teóricas sobre o campo da psicose, especificamente, a paranóia, bem como aprofundou conceitos importantes como o narcisismo, extraindo desta articulação consequências fundamentais para a prática psicanalítica.

Jacques Lacan retomou essa obra de Freud no seminário “As psicoses” ou “As estruturas freudianas das psicoses”, de 1955-1956. Este seminário foi proferido por Lacan na gestação do estruturalismo na França, corrente de pensamento que elegeu em vários momentos como interlocutor de questionamentos que desejava transpor para a psicanálise.

No terreno específico das modalidades clínicas, ou estruturas clínicas como frequentemente chamamos, a influência estruturalista se faz presente, seja pelo nome que porta, seja porque neurose, psicose e perversão possuem cada uma delas, para além dos matizes e formas diferentes, um núcleo derivado das relações com o Nome-do-Pai.

Mas hoje será que referendaríamos a influência do estruturalismo? E se não, seria agora por influência de uma cultura que não se interessa mais pelo que permanece? Ou por que o invariante da estrutura desmerece as muitas mudanças que um sujeito é capaz de realizar, independente de sua estrutura clínica? Ou ainda, a propalada mutabilidade e velocidade de nosso tempo influenciam a noção de um psiquismo que muda, transforma-se? Os sintomas têm mais relevância que a estrutura de fundo? O aparente importa mais que a causa dele? Se sim, isto implica um fechamento para o inconsciente enquanto instância não aparente?

Seja onde procuremos possíveis influências da cultura atual, encontramos referências à mutabilidade. Importa o que se desfaz, o que se transmuta, e a concepção de sujeito moderno acompanha essa noção. Mas e o sujeito da psicanálise? Como consideramos a tensão entre o fixo e o cambiável? Como incluir a noção de mutabilidade sem recair na imprecisão dos diagnósticos fenomenológicos? Questões centrais do nosso trabalho que permearão o debate proposto para essas Jornadas.

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