sexta-feira, 28 de junho de 2013


Que posso eu desejar senão ver felizes os meus?


QUE POSSO EU DESEJAR SENÃO VER FELIZES OS MEUS?

Artigo da Psicóloga Tereza Guberovich.

Após uma atitude nada pensada, nada programada me dei conta que “sair do face” não é uma coisa simples. Aconteceu mais ou menos assim: estava eu ali na minha pagina quando pensei: está chato isso. Exclui. Como escreveu Freud lá pelos idos de 1900, encontrar o sentido das coisas é um dos vícios de quem faz analise pessoal. É algo que se impõe. Somente me dei conta da “gravidade” do meu gesto quando vi o pânico dos meus amigos querendo saber se haviam sido excluídos, ou se eu não estava mais lá. E se eu não estava mais lá, o que será que havia acontecido? Esta triste? Separou-se? Está com problemas? São muitas as perguntas. Pensei também, se o meu gesto não era carência. Uma das frases de uso comum é: fez pra chamar a atenção. Será? Será que meu marido vai vir me dizer que a vida dele “no face” sem mim não faz mais sentido? Será que ele irá notar que não estou mais lá? E se notou, vai falar sobre isso ou vaiesperar eu dizer algo? Vejam como não é uma coisa simples. Nós estamos vivendo uma realidade virtual de forma concreta. Nos tempos de Orkut tínhamos uma fazenda onde podíamos comprar com dinheiro real produtos para uma fazenda virtual. Inacreditável. E essa é a nossa realidade atual. Na questão do face cada um do seu jeito tenta saber o que houve na minha vida. Mas a pergunta que mais angustia é a da exclusão. Ser excluído causa pânico, afinal desde pequenos esse é um dos nossos medos mais comuns. É uma fantasia infantil das mais angustiantes. Todo mundo pode buscar na memória alguma situação escolar onde ser excluído era a maior causa de pânico. Ser excluído por alguém que gostamos causa horror e nos remete a nossa condição de desamparo. Desamparados somos frente ao que desconhecemos nas emoções dos outros. O gesto de excluir meu “face”, também poderia ser porque me deu uma canseira daquela mesmice, das atualizações em tempo real, do computador ligado, das atualizações no celular, enfim, sai de cena. Pensei haver saído. Somos pressionados a ter sempre um celular ligado para sermos encontrados no tempo da necessidade dos outros e de preferência atender no primeiro toque. Se temos um celular e o deixamos em casa, ou escolhemos não atender quando ele toca nos coloca na condição de seres insensíveis. Gente que não se importa com a urgência dos outros. Rapidamente vem a pergunta: você tem celular pra quê? E telefonamos uns para os outros para checar o número. Será que é esse mesmo? Será que ela trocou de numero e não me avisou? Se não me avisou o que houve? Esta de mal comigo? Mas por quê? “Aí paremo”, como diz o Chiquinho no rádio. Podemos refletir com isso. É claro que ver e sermos vistos também faz parte da nossa condição humana, do nosso psiquismo. Somos narcísicos por natureza, uns mais, outros menos, mas todos com um grau de narcisismo que nos coloca na mira do olhar do outro. Uma das frases que circula com freqüência, diz mais ou menos assim: felicidade não é felicidade se não pode ser compartilhada. Por isso que nós contamos para os amigos, publicamos nas redes sociais quando estamos felizes, dividi-la de alguma maneira a triplica. É bom saber que fizemos diferença na vida dos nossos amigos. Mas às vezes algumas atitudes que tomamos não são um teste de carência afetiva. Neste caso foi somente uma necessidade de tempo. Foi um teste pessoal: será que eu consigo ficar alguns dias sem saber o que anda rolando por ai? Será que consigo ficar sem saber das atividades diárias de meus amigos? Já tenho a resposta!
Sim, eu consigo. Sabemos que em excesso a vivência nas redes sociais pode levar a problemas patológicos como apatia, fuga da realidade, alienação, perda de interesse para com tudo que não esteja ligado a internet e que podem comprometer significativamente a vida.
Tenho medo de dependências. Não agüento depender de alguma coisa externa. Após chegar a estas conclusões me tranqüilizei. Decidi voltar, para que o pânico não se instalasse definitivamente entre os meus amigos pessoais. Pois quem não tem “face” não se relaciona socialmente como deveria. Nós queremos, mesmo que na fantasia ser um pouco como a Helena de Machado de Assis: dedicada, afetiva e inteligente; com maneiras finas e algumas prendas de sociedade, e mediante a estes recursos, e muita paciência, arte e resignação - não humilde, mas digna - conseguia polir os ásperos, atrair os indiferentes e domar os hostis. Em tempos de realidades virtuais também queremos ganhar os corações sem abdicar de nossa dignidade. Ou será que isso tudo é um grande drama. O Tiago, meu marido diria: estas fazendo um drama de novo. Será?
Tereza Guberovich



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