segunda-feira, 21 de abril de 2008

Nadja


Este fragmento chamou minha atençao na leitura do livro!

"Quem sou? Se excepcionalmente recorresse a um adágio, tudo nao se resumiria em saber "com quem ando"?Devo confessar que essa expressao me perturba um pouco, pois tende a estabelecer entre mim e certos seres relaçoes mais singulares, menos evitáveis, mais perturbadoras do que poderia imaginar. Diz muito mais do que quer dizer, me faz desempenhar em vida o papel de um fantasma, alude evidentemente ao que eu deveria deixar de ser para ser quem sou. Tomando-a de forma um tanto abusiva nesta acepçao, dá-me a entender que tudo o que considero manifestaçoes objetivas de minha existência, manifestaçoes mais ou menos deliberadas, nao passa, nos limites desta vida, de uma atividade cujo verdadeiro campo permanece inteiramente desconhecido para mim. É possivel que minha vida nao passe de uma imagem que esteja condenado a voltar sobre meus passos, pensando, ao contrário que avanço, tentando reconhecer o que de fato deveria reconhecer, aprender uma escassa parcela do que esqueci. Alem de toda a espécie de singularidade que reconheço em mim, de afinidades que sinto, de atraçoes que sofro, de acontecimentos que me ocorram e ocorram somente a mim, alem da quantidade de movimentos que me vejo fazer, de emoçoes que somente eu experimento, esforço-me, em relaçao aos outros homens, por saber que consiste, ou pelo menos a que se deve, essa minha diferenciaçao. Nao será à medida exata que eu tomar consciencia dessa diferenciaçao que poderei ficar sabendo o que, entre todos os demais, vim fazer neste mundo, e qual a mensagem ímpar de que sou portador, a ponto de só minha cabeça poder responder por meu destino?De minha parte, continuarei a habitar minha casa de vidro, de onde se pode ver a todo instante quem vem me visitar, onde tudo o que está pendurado no teto ou nas paredes se sustém como que por encanto, onde repouso à noite, sobre um leito de vidro com lençois de vidro, onde quem sou me aparecerá cedo ou tarde, gravado em diamante" André Breton

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